Dependência de Maconha

A maconha é a droga ilícita mais usada no mundo. É extraída de uma planta chamada Cannabis sativa e o principal composto psicoativo é o delta-9-tetra-hidrocanabiol (THC) [1].

A Cannabis sativa contém aproximadamente 400 substâncias químicas, entre as quais se destacam pelo menos 60 alcalóides conhecidos como canabinóides. Eles são os responsáveis pelos seus efeitos psíquicos e classificados em dois grupos: os canabinóides psicoativos (por exemplo, Delta-8-THC, Delta-9-THC e o seu metabólico ativo, conhecido como 11-hidróxi-Delta-9-THC) e os não-psicoativos (por exemplo, canabidiol e canabinol).

A dependência de maconha está entre as dependências de drogas ilícitas mais comuns; um em dez daqueles que usaram maconha na vida se tornam dependentes em algum momento do seu período de quatro a cinco anos de consumo pesado.

Complicações agudas

Os efeitos da maconha iniciam-se logo após ser fumada e duram cerca de 2 a 5 horas. Certo prejuízo das habilidades motoras pode permanecer por até 12 horas.

Os efeitos psíquicos são variáveis, por vezes dependentes da expectativa do usuário, e incluem:

• Um efeito euforizante;
• Relaxamento;
• Falsa sensação de diminuição da ansiedade;
• Alterações da percepção temporal e espacial;
• Aumento da percepção das cores, sons, textura e paladar;
• Além de aumento do apetite.

Também ocorre hiperemia conjuntival e midríase, leve taquicardia, boca seca, tremores de mãos, alteração da coordenação motora, da atenção e da memória e diminuição da força muscular.

Pode haver ansiedade, reações agudas tipo pânico, experiências de despersonalização e desrealização, além de ideias autorreferentes e alucinações. Em doses mais elevadas, pode ocorrer hipotensão ortostática e desmaios.

Quadro 2 - Sinais e sintomas decorrentes  do consumo da maconha
Efeitos euforizantes

• aumento do desejo sexual
• sensação de lentificação do tempo
• aumento da autoconfiança e grandiosidade
• risos imotivados
• loquacidade
• hilaridade
• aumento da sociabilidade
• sensação de relaxamento
• aumento da percepção das cores, sons, texturas e paladar
• aumento da capacidade de introspecção

Efeitos físicos • taquicardia
• hiperemia conjuntival
• boca seca
• hipotermia
• tontura
• retardo psicomotor
• redução da capacidade para execução de atividades motoras complexas
• incoordenação motora
• redução da acuidade auditiva
• aumento da acuidade visual
• broncodilatação
• hipotensão ortostática
• aumento do apetite
• xerostomia
• tosse
• midríase
Efeitos psíquicos • despersonalização
• desrealização
• depressão
• alucinações e ilusões
• sonolência
• ansiedade
• irritabilidade
• prejuízos à concentração
• prejuízo da memória de curto prazo
• letargia
• excitação psicomotora
• ataques de pânico
• auto-referência e paranóia
• prejuízo do julgamento

Déficits motores (por exemplo, prejuízo da capacidade para dirigir automóvel) e cognitivos (por exemplo, perda de memória de curto prazo, com dificuldade para lembrar de eventos, que ocorreram imediatamente após o uso decanabis) costumam acompanhar a intoxicação.

Complicações crônicas

Indivíduos dependentes de maconha frequentemente relatam passar longos períodos adquirindo e usando a droga. O uso prejudica a capacidade física e psicológica do paciente. O desempenho escolar ou profissional fica prejudicado.

Funcionamento cognitivo

Há evidência de que o uso prolongado de maconha é capaz de causar prejuízos cognitivos relacionados à organização e integração de informações complexas, envolvendo vários mecanismos de processos de atenção e memória.Tais prejuízos podem aparecer após poucos anos de consumo [2].

Prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos tais como aumento da vulnerabilidade à distração, afrouxamento das associações, intrusão de erros em testes de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes e piora da atenção seletiva. Tais prejuízos parecem estar relacionados à duração, mas não à frequência do consumo de maconha.

Dependência

A dependência da maconha vem sendo diagnosticada há algum tempo, nos mesmos padrões das outras substâncias.

Muitos estudos comprovam que os critérios atuais de dependência aplicam-se muito bem à dependência da maconha bem como de outras drogas [3].

Quadro 4 - Sintomas de abstinência da maconha
• fissura
• irritabilidade
• nervosismo
• inquietação
• sintomas depressivos
• insônia
• redução do apetite
• cefaléia

É necessário enxergar a dependência química de maconha como doença e oferecer todos os recursos para que a abordagem do indivíduo seja integral e possa promover mudanças efetivas do comportamento, emoções, saúde e principalmente na consciência dos prejuízos físico, mental e social que a droga acarreta [4].

A recomendação é que os profissionais de saúde informem seus pacientes usuários de maconha sobre os já comprovados efeitos nocivos (risco de acidente, danos respiratórios para usuários crônicos, risco de desenvolver dependência para usuários diários e déficit cognitivo para os usuários crônicos).

Referências bibliográficas

1. Ribeiro, M., et al., Abuso e dependência da maconha. Revista da Associação Médica Brasileira, 2005. 51(5): p. 247-249.
2. Jungerman, F.S., R. Laranjeira, and R.A. Bressan, Maconha: qual a amplitude de seus prejuízos? Revista Brasileira de Psiquiatria, 2005. 27(1): p. 5-6.
3. Diehl, A., D.C. Cordeiro, and R. Laranjeira, Cannabis abuse in patients with psychiatric disorders: an update to old evidence. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2010. 32: p. 541-545.
4. van der Meer Sanchez, Z., et al., O papel da informação como medida preventiva ao uso de drogas entre jovens em situação de risco. Ciênc. saúde coletiva, 2010. 15(3): p. 699.